31 janeiro 2006

Da voz


Da voz
que larguei nas tuas mãos,
perdi a côr e não sei mais
por quem esvoaçam as espigas.
Deixei que fossem
os teus olhos rasos de água,
os primeiros acordes da madrugada,
perdidos pela canção que te ouvi cantar,
para te dizer
que ainda não chegara a mim
a primeira vez.
Não sei o que fizeste daquela noite
onde os pássaros puderam voar,
ou da minha mesa
onde a chuva se veio a perder.
Amo-te... e um navio
írrompe cansado pela janela,
trazendo no corpo de cada marinheiro
a noticia do anoitecer.
E chego assim
ao limiar do teu peito, a esse mar
com cheiro a rosas
onde a minha mão anseia acordar.

28 janeiro 2006

Como a primeira vez


Os lábios procuram-se,
ansiosos,
como singelos rebentos singrando
pela madrugada,
até que o sangue venha inundar
a pele em flor,
e corra espesso pelas curvas da chegada.

Provocas-me os dedos
na volúpia da tempestade, sonham
pelos teus ombros vazios,
desnudados.
E as mãos, as minhas, possuem
redes de linho, procurando
embalar as aves na orla
dos teus seios lassos.

E na humidade de um beijo,
cresce em mim,
um cavalo de fogo, desperto
pelo contacto breve
das tuas ancas perfumadas,
e sinto-lhe o turpôr,
alucinante,
como se o meu corpo
fosse um exército cansado,
desejando a paz que no teu corpo é furôr.

Gota a gota


Gota a gota
o inverno mostra-se pelas ruas
pelos becos da realidade nua.

Gota a gota
as lágrimas teimam em desaguar
pela saudade do teu olhar.

Uma gota
outra gota,
e neste dia de janeiro
sou de um sonho teu,
onde desabrocham rosas
que de amarelo se deixaram pintar,
e onde uma criança brinca,
embalada pelas ondas do mar.

E gota a gota,
uma atrás da outra,
apenas por te amar
deixo a solidão entrar.

No teu olhar


É de azul que o mar solta o seu canto,
atormentado em azul celeste
pelo testemunho breve
da queda de um anjo.

Foi naquela tarde,
os teus olhos perderam côr
e lágrimas verdes
correram livres
pelo teu rosto infantil.
Em beijos entrelaçados,
exaltámos juras de eterno amor,
tu de rosas te cobriste,
e eu, estarrecido
no teu corpo perfumado
me encontrei perdido.
De cabelos soltos ao vento,
senti-te partir
quando me pegaste na mão
em silêncio,
num sorriso primaveril.

Agora,
os dias são apenas
tristes em desoladas marés,
de alguem que não soube ficar.

Agora,
apenas o mar se exalta
pelo azul que se tornou verde
no meu olhar.

27 janeiro 2006

pela maré...


Perpetuam-se as imagens
largadas pelo vento
e já não sei se és rio ou flôr ou canção ou apenas relento,
eu parto com a maré.

26 janeiro 2006

"who are u?"

Hoje saí de casa, e entrei na manhã cheio de pressa, com vontade de te ver e de te falar... com a urgência óbvia de te amar, e comigo trouxe para a rua a melodia que vinha já de fora, inteira dentro de mim, quebrada perante ti...


Who Are U?
by David Fonseca

Ever since I saw you
I want to hold you
Like you were the one

It sees right through me
A bullet it comes and takes me
And I love you I love you
I want you but I fear you

Who are u?
Who are u?

Ever since I saw you
I want to hold you
Like you were the one

Your feet rest on my shoes
I sing this song for you
Just to see you smile

And I love you I love you
I love you but I fear you

Who are u?
Who are u?

For how long
How strong do I still have to be?
How come you mean so much to me?

For how long
How strong do I still have to be?
How come you mean so much to me?

And I love you I love you
I want you but I fear you

Who are u?
who are you?(x4)

For how long
How strong do I still have to be?
How come you mean so much to me?

For how long
How strong do I still have to be?

25 janeiro 2006

Aqui apenas tu


Não saber como te amar,
por onde começar.
A manhã é simples
e verdadeira,
mas onde está a razão?
Não saber como te procurar,
e estares aqui
apenas tu.

24 janeiro 2006

Tudo o que sei...


Já não sei se apenas és vento passageiro,
ou brisa de verão,
não sei se és lua de quarto crescente,
ou noite de outubro
que o dia soleiro vem aquecer.

Sei que são rosas
as flores que procuram a água
da nascente,
e nascem rios
no verde dos teus olhos.

Sei que sem saber,
és tudo o que sei.

21 janeiro 2006

do tempo sem passado...


Viajo no tempo sem passado
rumo ao presente
do teu corpo.
Da partida,
recordo apenas
o aroma fresco dos teus lábios,
e o rumor das águas
que aceitei
apenas por serem tuas.
E trago-as junto ao teu nome,
sussurradas
pela brisa de um simples beijo,
embaladas
pelas ondas violentas do teu peito.
Não sei como serão
as vozes da chegada,
ou mesmo como fluirão
as palavras do caminho,
mas espero
ter as tuas mãos nas minhas,
como guias,
até ao fim de todos os dias.

20 janeiro 2006

pelas ruas do tempo sem fim...


Procuro-te pelo caminho
que se demora
em cada entardecer,
pelo trilho das pedras
frias e nuas,
que atrás de mim
vejo desaparecer.
Percorro as paredes de branco caiadas,
pelas mãos, as minhas
que agora são já tuas,
pela urgência de não perder este amor,
esta saudade
que teima em ficar.
E sem ti,
percorro vazio as ruas,
orfão do tempo sem fim,
desculpa...
se ainda não aprendi
a respirar sem ti.

19 janeiro 2006

e do mar vieste...


Do silêncio das palavras
corre o vento sem destino,
chega na alvorada do teu nome
pelo mar,
e do mar que o viu chegar.
Palavras,
marítimas tempestades de quem não quis,
de quem não soube ficar.
Deixei há muito
aquele campo de espigas sem fim,
e percorro agora
errante o caminho aberto
pela mão de uma criança.
E de repente, solto-me de mim
e das águas,
e vou por aí,
por ti,
para em ti naufragar.

amor submerso


Das mãos,
um barco,
e um rio de águas paradas.
Do corpo, apenas
as tuas palavras
no silêncio naufragadas.